Guia de técnicas de narrativa: 25 exemplos e explicações que vão aprimorar suas habilidades de leitura e escrita
Aprenda sobre as várias técnicas de narrativa, bem como a definição do termo neste guia que inclui exemplos.
Não há uma fórmula secreta para escrever um livro que se transforme em um sucesso de vendas ou um artigo ganhador do prêmio Pulitzer. Cada texto é tão variado e diverso como as pessoas que os escreveram, mas todos eles compartilham um ponto em comum: o uso de técnicas de narrativa.
Neste artigo, você vai aprender as definições das técnicas de narrativa, quais são exatamente as técnicas de narrativa utilizadas em histórias de ficção e não ficção, e como você pode começar a incorporar alguns desses conceitos em seu próprio trabalho.
O que é técnica de narrativa?
Provavelmente você vai ouvir alguém se referindo às técnicas de narrativa ao falar de ficção ou literatura como “dispositivos literários”, “dispositivos ficcionais” ou “técnicas literárias”, termos comumente usados em círculos acadêmicos e profissionais com o mesmo significado. Mas o que devemos considerar como a principal definição de técnica de narrativa? O que é uma técnica de narrativa? Em sua essência, uma técnica de narrativa é a maneira como um escritor transmite o que quer dizer para o leitor e os métodos que utiliza para desenvolver uma história.
Os elementos individuais das diversas técnicas de narrativa podem ser divididos em seis categorias diferentes:
- Personagem
- Perspectiva
- Enredo
- Configuração
- Estilo
- Tema
Cada uma dessas categorias desempenha um papel importante no desenvolvimento de uma história, transmitindo a mensagem do escritor e apresentando-a ao seu público de uma forma intencional.
O que é a estrutura de narrativa?
É fácil pensar que estrutura de narrativa e técnica de narrativa significam a mesma coisa por terem nomes similares, mas isso não é verdade. É melhor pensar na estrutura da narrativa como a planta geral de uma casa, enquanto as técnicas de narrativa são os tijolos usados para construir a casa.
A estrutura aborda fundamentalmente o seu planejamento da história e os diferentes elementos que você vai usar para criar esse conteúdo e como tudo vai trabalhar em conjunto para formar um quadro maior.
Dos quatro tipos de estrutura de narrativa, a mais comum é a linear, quando a história segue do início ao fim em ordem cronológica. Se você analisar alguns dos seus livros e até mesmo filmes favoritos, uma estrutura linear típica vai seguir um padrão de cinco atos, também conhecido como Pirâmide de Freytag:
- Início/Introdução de personagens
- Problema/conflito
- Clímax do enredo
- Resolução
- Fim/Conclusão dos personagens
Quando analisamos a definição de técnica de narrativa, são as diferentes peças usadas nesta estrutura que nos ajudam a chegar até o final, tornando a jornada do leitor mais complexa ou interessante.

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25 tipos de técnicas de narrativa com exemplos
1. Configuração
Essa técnica é particularmente popular na ficção gótica, onde uma casa ou paisagem se tornam praticamente personagens adicionais da história, definindo o clima e exercendo uma influência significativa sobre o protagonista.
Exemplo de configuração
As construções em O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë, são descritas muitas vezes como lugares frios e miseráveis, refletindo os personagens que vivem em seu interior.
2. Foreshadowing ou presságio narrativo
Como o próprio nome sugere, os escritores usam o presságio narrativo para sugerir eventos ou desfechos que vão acontecer mais adiante na narrativa, através de personagens ou objetos da história.
Exemplo de presságio
“Prefiro ter cerceada logo a vida pelo ódio deles, a ter morte longa, faltando o teu amor.” — Romeu e Julieta, de William Shakespeare.
3. Cliffhanger
Um cliffhanger é quando uma história é deixada em aberto e sem solução. É uma técnica de narrativa comumente usada na televisão e em filmes, pois os criadores querem que o público retorne para assistir ao próximo episódio ou a continuação e ter suas respostas reveladas.
Exemplo de Cliffhanger
Os cadernos de Pickwick, de Charles Dickens, contêm muitos exemplos de cliffhangers em toda a história. A obra foi originalmente publicada na forma de artigos semanais de jornal, e os finais dos capítulos eram deixados deliberadamente em aberto para incentivar os leitores a comprarem a edição da semana seguinte.
4. Analepse ou prolepse
Removendo o leitor da ordem cronológica da história, a analepse ou a prolepse são técnicas que revelam eventos do passado ou do futuro que impactam os personagens no tempo presente ou na cronologia da história.
Exemplo de prolepse
Um conto de Natal, de Charles Dickens, é um dos exemplos mais notáveis de prolepse na literatura clássica.
5. Pista falsa
Pistas falsas são comuns em textos de crime e mistério, em particular, onde os escritores desviam a atenção do leitor para outro personagem ou elemento da história, despistando-o da verdade.
Exemplo de pista falsa
Em um grande clássico do suspense, O cão dos Baskervilles, de Sir Arthur Conan Doyle, vemos Sherlock Holmes explorando diversas pistas falsas enquanto investiga um assassinato.
6. Epifania
Uma realização repentina de um personagem pode ter um impacto dramático em uma história. Normalmente tem relação com algum problema enfrentado por um personagem, e surge uma solução ou perspectiva diferente.
Exemplo de epifania
Em Hamlet, de William Shakespeare, o personagem principal percebe que ele deve se vingar do assassinato do seu pai enquanto estava viajando para a Inglaterra.
7. Narrador em primeira pessoa
Ao usar essa perspectiva de narrativa, o escritor conta a história do ponto de vista de um personagem. Na maioria dos casos é o protagonista, mas nem sempre é assim.
Exemplo de narrador em primeira pessoa
A narrativa de Jane Eyre, de Charlotte Brontë, é contada do ponto de vista de Jane, dez anos depois dos eventos do romance.
8. História de fundo
A história de fundo se refere a eventos que aconteceram antes da história principal, fornecendo contexto para o que acontece no tempo presente. Normalmente a história é descrita em forma de prólogo, mas também pode ser apresentada durante a linha de tempo linear, usando reflexões dos personagens.
Exemplo de história de fundo
No livro Frankenstein, existem referências a eventos do passado do Dr. Frankenstein e da criatura. Esses eventos têm impacto na compreensão dos personagens pelo leitor.
9. Representante do autor
Muitos escritores acrescentam suas próprias características aos seus personagens, mas um representante do autor é uma versão mais detalhada disso. Um personagem passa a assumir o ponto de vista pessoal, moral e até mesmo as características de personalidade do autor quando essa técnica de narrativa é utilizada.
Exemplo de representante do autor
Acredita-se que a personagem Jo March representa a autora Louisa May Alcott no clássico romance americano, Mulherzinhas.
10. Descrição repetitiva
A repetição é algo comum em todas as obras de ficção e é muitas vezes usada para destacar um ponto particular da história. Essa técnica consiste em fazer referências a um personagem ou objeto repetidamente. No início, essa referência parece irrelevante, no entanto, mais tarde comprova-se que é uma parte crucial da narrativa.
Exemplo de descrição repetitiva
A luz verde no final da doca de Daisy Buchanan é usada durante todo o livro O Grande Gatsby como símbolo da destruição gradual do sonho de Gatsby.
11. Profecia autorrealizável
Como o próprio nome sugere, um escritor usa essa técnica com personagens que fazem previsões sobre o futuro que se tornam realidade devido ao que pensam sobre esse evento.
Exemplo de profecia autorrealizável
Se você se preocupa porque vai se atrasar para a escola e pensa constantemente nisso, você acaba se atrasando para a escola devido à sua preocupação constante. Isso é um exemplo de profecia autorrealizável.
12. Narrador não confiável
De certa forma, a maioria dos narradores em primeira pessoa pode ser encarada como não confiável, pois são muitas vezes personagens-chave da história e mostram parcialidade. Um narrador não confiável vai enganar deliberadamente o leitor para acrescentar intrigas à história.
Exemplo de narrador não confiável
Nick Carraway, em O Grande Gatsby, é um dos melhores exemplos de um narrador não confiável. Ele intencionalmente omite informações importantes sobre os personagens principais e é desonesto sobre seu próprio comportamento.
13. Gancho de narrativa
As melhores histórias são as que prendem você desde o início, e um gancho de narrativa é exatamente isso. Geralmente estão no início da narrativa e fazem você continuar a leitura.
Exemplo de gancho de narrativa
Uma das frases de abertura mais famosas do mundo: “É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro na posse de uma bela fortuna necessita de uma esposa”, do livro Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, é o exemplo perfeito de um gancho de narrativa no primeiro capítulo.
14. Alegoria
Uma alegoria é uma história simbólica, muitas vezes de natureza religiosa ou espiritual, que reflete sobre características inerentes ao ser humano.
Exemplo de alegoria
A lebre e a tartaruga é uma história elaborada em torno de uma moral, mostrando que você pode ter mais sucesso se for lento e constante do que sendo rápido e descuidado.
15. Hipérbole
Essa técnica usa exagero extremo para criar uma impressão duradoura ou gerar sentimentos fortes no leitor.
Exemplo de hipérbole
“Eu estava desamparado. Não sabia o que fazer no mundo. Estava tremendo da cabeça aos pés e poderia ter pendurado meu chapéu nos olhos, eles estavam bem salientes.” — Velhos tempos no Mississipi, de Mark Twain.
16. Detalhes sensoriais
Sem imagens para apoiar a escrita, o leitor é levado pela sua própria imaginação. Os detalhes sensoriais e o imaginário são métodos comumente usados para ajudar os leitores a criar imagens mentais de uma cena, usando uma linguagem descritiva que toca especificamente os cinco sentidos.
Exemplo de detalhes sensoriais
“O pêndulo oscilava para lá e para cá, com um tique-taque vagaroso, pesado, monótono. E quando o ponteiro dos minutos concluía o circuito do mostrador e a hora ia soar, emanava dos pulmões de bronze do relógio um som claro, elevado, agudo e excessivamente musical.” — A máscara da morte rubra, de Edgar Allan Poe.
17. Onomatopeia
Usado em textos literários e de não-ficção, uma onomatopeia é uma palavra que tem o som parecido com aquilo que está descrevendo.
Exemplo de Onomatopeia
“O zumbido da abelha” ou “o rugido do leão” são exemplos de onomatopeia.
18. Paródia
As paródias são normalmente usadas para zombar ou transmitir humor por meio de uma imitação exagerada.
Exemplo de paródia
A história das Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, é uma paródia da sociedade inglesa.
19. Oxímoro
Dizem que os opostos se atraem, e é isso que acontece com os oxímoros. São duas palavras opostas que são deliberadamente usadas em conjunto para enfatizarem essa condição.
Exemplo de oxímoro
“Sozinho na multidão” ou “segredo conhecido” são exemplos de oxímoros.
20. Antropomorfismo ou personificação
A personificação é comumente usada para dar características e traços humanos a elementos não humanos. O antropomorfismo é uma forma de fazer isso, referindo-se especificamente a animais.
Exemplo de personificação
“O gemido do vento” ou “o coração deu um pulo” são exemplos de personificação.
21. Falácia patética
Isso acontece quando o humor de um personagem se reflete em objetos não humanos ao seu redor. O clima é normalmente usado na ficção para sugerir o estado de espírito de um personagem, em um dado momento da história.
Exemplo de falácia patética
Trovões violentos ou chuva intensa são condições muitas vezes usadas na ficção para retratar e transmitir a raiva ou a tristeza de personagens.
22. Multiperspectiva
Uma história pode ter múltiplos narradores e perspectivas. Essa técnica é usada para mostrar os pontos de vista de diversos personagens, normalmente na forma de um narrador em terceira pessoa onisciente, que tem conhecimento de todos os fatos.
Exemplo de multiperspectiva
A história de Os Miseráveis de Victor Hugo é contada da perspectiva de um narrador onisciente, pelo ponto de vista de vários personagens principais.
23. Metáfora
Usamos metáforas durante nossa vida diária, é uma das técnicas literárias mais populares. Um escritor vai usar a linguagem descritiva como uma figura de linguagem para descrever uma cena ou personagem, em vez de ser completamente literal em sua descrição.
Exemplo de metáfora
“O mundo inteiro é um palco e todos os homens e mulheres não passam de meros atores.” — Como gostais, de William Shakespeare.
24. História dentro da história ou narrativa moldura
Uma narrativa pode conter várias histórias ou subtramas, e essa técnica é um bom exemplo disso. Os escritores que usam narrativa moldura costumam criar “mini-histórias” na narrativa principal para destacar outros personagens ou desenvolver o enredo.
Exemplo de narrativa moldura
O enredo de As aventuras de Alice no País das Maravilhas é uma compilação de histórias curtas sobre os personagens que Alice encontra em sua jornada.
25. Reviravolta no enredo
Quando acontece algo inesperado em uma história, isso é normalmente descrito como uma reviravolta no enredo. Utilizado em todos os tipos de narrativa, o final esperado é geralmente alterado em um momento crucial no enredo.
Exemplo de reviravolta no enredo
Alerta de spoiler! A revelação no livro de Jane Austen, Razão e sensibilidade, de que Miss Steele é casada com Robert Ferris, não Edward, é um ponto de virada para a personagem principal Elinor Dashwood, e causa uma reviravolta significativa no final do romance.
Agora que você tem um conhecimento mais amplo sobre as técnicas de narrativa, é hora de experimentar algumas delas em sua própria escrita!

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