Porque auto-retratos devem ser uma parte importante da sua jornada artística
A prática que esclarece e aprofunda sua visão criativa, e seu relacionamento consigo mesmo.
Os rostos de alguns artistas são tão reconhecíveis quanto sua arte. Veja o Vincent Van Gogh, por exemplo. Quase qualquer pessoa reconheceria sua pintura A Noite Estrelada—mas você provavelmente também reconheceria seu auto-retrato que apresenta seu olhar solene e sua barba vermelha como fogo. E as coroas de flores e as sobrancelhas inconfundíveis da Frida Kahlo a tornam instantaneamente reconhecível em seus muitos auto-retratos.
Desde o século XV os artistas têm utilizado auto-retratos como uma forma de auto-expressão. Mas o que é um auto-retrato? Abaixo, vamos explorar uma definição de auto-retrato e também exemplos famosos.
O que é um auto-retrato?
A definição simples de auto-retrato é um retrato de um artista criado pelo(a) próprio(a) artista. (E caso você esteja se perguntando, na arte, a definição de “retrato” é uma pintura, desenho, fotografia ou gravura de uma pessoa.)
Mas se você perguntar a um artista, “O que é um auto-retrato?”, você provavelmente terá uma resposta mais complexa. Para artistas, a arte do auto-retrato representa o artista inteiro — em outras palavras, como ele se vê, o que ele está sentindo e como ele quer ser visto pelos outros. Não é necessariamente a criação de uma imagem realista de si mesmo(a); em vez disso, é muitas vezes um exercício de auto-exploração.
A história da arte do auto-retrato
Antes do século XV, o auto-retrato era encontrado aqui e ali, mas não se tornou um gênero estabelecido até o início do Renascimento, quando espelhos bons e mais baratos se tornaram mais disponíveis.
Os artistas têm experimentado pintar a si mesmos desde a primeira onda de auto-retratos, passando da pintura para as câmeras, e mais tarde, outras tecnologias ao procurarem criar representações novas e mais inovadoras de si mesmos.
A diferença entre uma selfie e um auto-retrato
Mais de 93 milhões de selfies são tiradas a cada dia, mas será que as selfies são o mesmo que auto-retratos? A maioria dos artistas diria que há uma diferença entre os dois, embora eles possam se sobrepor.
Tradicionalmente tiradas à extensão do braço ou em um espelho, as selfies são inerentemente substituíveis. Se você não gostar da foto que tirar, pode tirar outra imediatamente. Para muitos artistas, os auto-retratos verdadeiros são mais deliberados e introspectivos, e geralmente levam mais tempo e exigem mais esforço para serem criados.
No entanto, isso não quer dizer que os artistas não possam usar selfies como um auto-retrato. Um(a) artista pode certamente escolher representar a si mesmo(a) através de selfies, mas geralmente são considerados dois tipos de arte diferentes.
Qual é o propósito do auto-retrato?
A finalidade de um auto-retrato depende em grande parte do artista. Para alguns, se trata de acessibilidade. Quando perguntada por que ela se fotografou, a falecida Francesca Woodman disse: “É uma questão de conveniência. Eu estou sempre disponível”. Outros artistas de auto-retrato famosos começaram, pelo menos em parte, por razões semelhantes.
“Eu era o modelo mais fácil e mais barato de se lidar — primeiro olhando o meu reflexo no espelho e depois tirando fotos de mim mesmo”, explica o pintor de Atenas Nikos Gyftakis.
Para outros artistas, pode se tratar mais de uma oportunidade para brincar e experimentar novas técnicas. Quando você está sozinho, tem o tempo todo no mundo e pode trabalhar sem prazos. Ainda outros usam a arte do auto-retrato para reformar o seu senso de identidade ou para estimular a autoaceitação. Eles querem se esforçar emocionalmente para se verem com uma nova perspectiva.
Exemplos de auto-retratos
Os auto-retratos podem assumir muitas formas, desde uma fotografia tradicional à arte abstrata. Abaixo, vamos explorar exemplos de fotografia e arte de auto-retrato de quatro artistas de auto-retrato famosos que se especializam no gênero: o pintor Nikos Gyftakis e as fotógrafas Mariell Amélie, Patricia Lay-Dorsey e Jocelyn Allen.
Fotografia de auto-retrato
Mariell Amélie
Nascida e criada na pequena ilha norueguesa de Andøya, Mariell Amélie começou a fazer auto-retratos aos quatorze anos, em uma “webcam muito pixelada” no computador construído por seu pai. Quando ficou mais velha, ela passou a utilizar as paisagens naturais que rodeavam sua casa, muitas vezes acompanhada por seu pai, que atuava como assistente.
Na época, seus auto-retratos ofereceram a ela a chance de habitar uma paisagem imaginária, onde qualquer coisa era possível. “Eu queria criar um mundo no qual eu não vivia, mas sobre o qual eu fantasiaria”, diz ela. “Eu estava construindo um mundo onde eu poderia ser exatamente quem eu queria ser. Eu me esquecia do tempo e lugar por sete horas e nem percebia que o mundo passava enquanto estava fotografando”.
Hoje em dia, a Mariell Amélie trabalha em todos os gêneros, desde paisagens até moda e interiores. Mas os auto-retratos sempre terão um lugar no seu coração, especialmente agora que ela se mudou de Andøya para Londres. “Sempre que estou em casa, eu mergulho direto no modo de auto-retrato. Passo dias testando ideias diferentes", diz ela.
“Os meus auto-retratos certamente têm sido meu subconsciente me dizendo que estou profundamente ligada a Andøya, pois todos as minhas fotos são criadas em paisagens e casas vazias que você pode encontrar por lá. De certa forma, talvez tenha sido isso que me manteve alicerçada nos dez anos que eu passei em Londres”.
Patricia Lay-Dorsey
Patricia Lay-Dorsey foi diagnosticada com esclerose múltipla progressiva crônica em 1988. Vinte anos depois, ela começou a fazer auto-retratos, um exercício que ela continua até hoje. “O ato físico de tirar uma foto é a parte mais fácil de tirar auto-retratos”, ela nos diz. “O que pode ser mais difícil é olhar as fotos no seu computador depois de baixá-las. O que você vê lá é o que outras pessoas vêem e geralmente não reconhecemos isso.
“Quando eu estava tirando os auto-retratos para o meu livro "Falling into Place", ver meu corpo e os dispositivos assistivos que preciso usar foi a parte mais desafiadora do processo. Logo percebi que estava vivendo em negação desde que recebi o diagnóstico, porque agora eu tinha que encarar aquilo que os outros enxergavam. Isso significava assumir a minha identidade como pessoa deficiente. Por mais difícil que tenha sido, foi transformador. Eu não seria quem sou hoje se não tivesse realizado esse projeto”.
“Ao trabalhar no projeto do meu livro Falling Into Place, o ato consciente de ver cada momento da minha vida como digno de ser notado me fez acordar todas as manhãs animada e com a pergunta na minha cabeça: ‘O que devo fotografar hoje?” diz Lay-Dorsey. “Ao invés de ver os sintomas da esclerose múltipla progressiva crônica com a qual eu vivia como algo negativo, eles se tornaram algo positivo porque me davam temas únicos para capturar com a minha câmera. Ver a minha vida como arte não apenas mudou meu ponto de vista como artista, mas minha atitude em relação à minha vida”.
Jocelyn Allen
O auto-retrato pode ser assustador, mas também pode ser emocionante. Quando a fotógrafa Jocelyn Allen começou a tirar fotos de si mesma, ela achava que era um projeto de curto prazo, mas aprendeu que quanto mais ela fazia isso, mais ela crescia criativamente e emocionalmente.
“A primeira vez que eu incluí fotos de nudez/fotos minhas na minha roupa de baixo em um projeto, me senti muito constrangida de publicar o projeto, especialmente no meu Facebook, pois eu sabia que as pessoas da minha adolescência o veriam”, recorda ela.
“Depois fiz uma série subsequente na qual incluí entradas de um diário de 10 anos antes, e me senti ainda mais constrangida com as pessoas vendo isso do que as imagens de nudez. Mas como esses projetos se tratavam de aprender a amar a mim mesma e o meu corpo, esses eram passos que eu tinha que dar”.
O trabalho de Allen lida com a ansiedade como um conceito central, e ela diz que o processo foi terapêutico. Ao mergulhar de cabeça nos seus medos, ela aprendeu que tem a força para superá-los. “Os meus auto-retratos me ajudaram a aceitar mais a mim mesma e o meu corpo, embora eu ache que será sempre um trabalho em andamento até que eu me sinta completamente em paz comigo mesma”, ela nos diz.
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Arte do auto-retrato
Nikos Gyftakis
Os auto-retratos são raramente estagnados. Eles mudam e evoluem à medida que um artista passa por transições de uma etapa para a próxima. “Eu cheguei à conclusão de que o auto-retrato é um assunto inesgotável”, nos diz Gyftakis. “Quanto mais analiso as formas, as cores e as linhas do meu rosto, mais fácil é gerar novas soluções estéticas. E quanto mais me aprofundo, surgem novas perguntas.
“Meus auto-retratos foram minha primeira tentativa bem-sucedida de comunicar minha filosofia e de entender como vejo o mundo como um artista. Eles também me ajudaram a experimentar com o elemento do tempo.
“Por um lado, eu criei tantos auto-retratos em diferentes épocas e idades na minha vida, que já cataloguei a marcha do tempo e da maturidade das minhas habilidades de pintura. Por outro lado, eu me formo meus auto-retratos de tal forma que minha experiência — meu passado, presente e futuro se misturam. Esse fluxo constante de cores e energia representa a paisagem do meu psique”.
Ele nos diz: “A parte mais difícil de criar um auto-retrato é ser objetivo e revelar lados seus que podem estar bem escondidos. A parte mais gratificante é de ter sucesso com isso”.
Com toda essa inspiração, você pode estar se perguntando como desenhar um auto-retrato de si mesmo. Na verdade, não existem regras, mas se você precisar de alguma orientação, não deixe de conferir os muitos cursos da Skillshare sobre a arte do auto-retrato.
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